Cartas para Duda (IV)

Duda,

Lisboa foi para mim um reencontro. Vi de onde o Tejo conduziu desbravadores ancestrais ao Oceano, para fundar nações, mercados e dívidas. E aquilo provocou em mim alguma sensação de pertencimento que há muito não sentia. Apreciava o pôr do sol iluminando o rio com um belo samba nos fones de ouvido, quando notei um velho português com cabelos e barba muito brancos ao meu lado, fazendo menção de falar. Retirei os fones para ouví-lo indagar sobre o que cantavam na música que eu ouvia. Hesitei algum tempo, imaginando se o volume estaria tão excessivamente alto. Ao que ele se adiantou, dizendo que todas as canções eram sempre sobre a mesma coisa. Perguntei se eram de amor. Ele negou. E explicou que todas as canções eram sobre saudade. Depois, repousou seu olhar sobre o ponto mais distante do Tejo que a vista alcançava, deixando que aquela verdade incontestável se assentasse. E contemplamos o tempo em silêncio. Hoje, sinto saudades daquele instante e precisei escrever uma carta que tentasse capturá-lo. Quem sabe, algum dia, ela se torne uma canção.

Beijos de fado e samba,

Sempre seu.

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