Cartas para Duda (V)

Duda,

Já há algumas luas não te escrevo, será que o mar reparou? Acho que eu oscilava entre o receio e a procrastinação. A vida real, que nos despeja obrigações, teses e boletos, abreviava meus sonhos com você. Mas não impedia pequenas doses de ócio, que me proporcionaram algumas inspirações apreciáveis. Uma noite dessas, o luar me fez ver com mais clareza. E enxerguei um dos componentes da fórmula da felicidade. É claro que você sempre foi uma constante. Mas identifiquei naquela noite um propósito que me faltava. Uma variável que passava pela minha ciência, pela minha arte e pela minha nação. E só então entendi que todos esses elementos eram a mesma coisa, indissociável. Isso é uma falha tão humana, Duda. Demasiadamente humana: dar nomes diferentes para a mesma coisa. E assim achamos que não vamos precisar, algum dia, lidar com aquela complexidade. Doce ilusão. A Lua ria de mim e do tempo que demorei a entender aquela premissa tão lógica e irônica. Por mais que você se distancie de mim, eu jamais poderia distanciar-me de meu propósito. Como a Lua cheia em uma noite sem nuvens, ele se impõe sem atalhos ou desvios: uma página em branco me aguarda.

Beijos sob o luar,

Sempre seu.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vão

Cartas para Duda (IV)

Cartas para Duda (VII)