Paenior (I)

Quando me relataram o acontecido, não pude acreditar. Até ontem impossível, hoje um grande soco na cara. Meu amigo, você não tem mais o amor da sua vida, seu povo te envergonha, o trabalho não vai bem. E você insiste em viver. Um pouco abstrato, ali na lateral, na janela lateral, lá fora um temporal, lá dentro os homens sórdidos. O poeta disse que talvez José quisesse morrer no mar. Mas em Paenior não há mar, apenas dor. Um rio seria tão poético quanto um mar? Acho que podemos completar tudo o que faltar com verbos enfáticos. Isso compensaria talvez a ausência de mar? Isso seria talvez uma forma de amar? Amar as palavras, não o amor da sua vida. Que se não existe agora, nunca existiu. Ou sempre hesitou? Está bem, vou ali, deixe-me ir, volto já.

* Texto escrito no primeiro ano de governo Bolsonaro. Que este ano seja o ano de voltar.

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