Cartas para Duda (VII)

Duda,

Antes, eu não entendia como o vocalista podia cantar tão intensamente sobre seus amores, usando metáforas de reis e coroas, de túmulos e flores, de cânceres que não paravam de crescer. Nem como o romancista associava lembranças do coração ao aroma das amêndoas ou às misteriosas borboletas amarelas. Do alto de suas solidões, eles evocavam tempos em que não estiveram sós. E descreviam imagens tão poderosas, como se as vissem mesmo de olhos fechados. Há quem não entenda, Duda. Há quem nunca vá entender, por dificuldades de sair de si ou outras fatalidades diversas. Mas há quem entendeu inesperadamente, num estalo fortuito, no limiar entre o apagar das luzes e o adormecer, ou numa dor tão avassaladora e inexplicável quanto a morte. De uma forma ou de outra, é real. Uma realidade nem sempre acessível, mas forte, como outras realidades que podemos conhecer. Só me resta ser grato por te ter conhecido, Duda.

Com amor,

Sempre seu.

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