Cartas para Duda (VI)

 Duda,

Sei que me calo às vezes, e calado vou ficando. Como naqueles três dias e três noites de carnaval. Mas é por não saber escolher as palavras. Ou canções. É o medo das palavras-flechas, que ferem os alvos, como te feri tantas vezes. Minhas frases sempre caminhavam na tênue linha entre a lapidação e a lápide. Nestes momentos de remorso, olho pela janela e vejo o pequeno pedaço de céu azul que me é acessível. E vejo nas asas dos pássaros e nas nuvens morosas, algo de amoroso, livre e pleno, que não espera nossas frases para existir. Ou resistir. O ciclo da vida pode até ser um alvo das nossas frases de política e capitalismo, mas não das nossas frases de amor, Duda. Ou será que há um pouco de amor na política, no capitalismo, na pandemia? Com amor ou ódio, assim segue a humanidade. Muito se sustenta com silêncios. São as pausas semibreves que também compõem canções.

Beijos silenciosos,

Sempre seu.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vão

Cartas para Duda (IV)

Cartas para Duda (VII)